VIVER PARATY!

8º ANO A - 2017

O CURSO DO RIO


Comigo carrego peixes, comigo carrego lixo, comigo carrego uma história. No começo de minha vida eu era livre, fazia o que bem entendia, ia pra um lado, ia pro outro, e desaguava no mar. Tudo que eu queria era viver aquilo de novo. Os primeiros humanos que vieram me consideravam um Deus, me usavam para se banhar, mas sempre me respeitando, me sentia um nobre, era adorado pelos nativos daquelas terras que se tornaria Paraty. Depois vieram os brancos, humilharam o povo que me adorava e depois tiraram minha liberdade. Não podia mais correr livre, minhas margens foram fechadas por cimento e cursadas para onde o povo bem queria. Muitos lutavam pela liberdade, me sentia como um dos negros, era usado, e não recebia nada em troca, a minha liberdade de correr por aí se foi.
Eu esqueci como é ser livre, ser adorado.
Dentre dos que mal ligavam para minha existência, existiam aqueles que falavam comigo, principalmente pescadores, que passam o dia inteiro ao meu lado. Os pescadores que passam parte da vida comigo, são artistas, poetas, escritores, pintores, escultores, cantores, filósofos e pensadores. Para mim contam suas histórias, uns vivem sozinhos, outros sustentam a família toda, uns pescam por diversão, outros porque vivem disso.
Minha vida passou a ser vivida de verdade, vivia a história dos outros, lia os livros que contavam suas experiências. A minha história são vários contos e poesias, o que eu nunca vivenciaria, eu vivi.
Julia Froes.

AS MEMÓRIAS DO TEMPO


Retornando à cidade, lembro-me do passado. Minha infância. Minhas memórias. Minha vida foi construída aqui. Nasci em um engenho, meu pai eu não conheci e minha mãe, era uma escrava. Lembro-me muito bem da minha infância. Aos 5 anos comecei a realizar trabalhos como escravo. As pedras que ainda ocupam o solo da cidade foram colocadas por mim e por outras crianças, filhos de escravos.
Apesar da grande importância da cidade na época do ouro, eu sentia sempre essa tristeza estampada na face dos escravos com
quem eu cruzava. Essa tristeza ainda me assombra.
Outro dia, não dormi lembrando de inúmeras crueldades que presenciei em minha juventude. O som dos chicotes estalando nas costas de outros como eu. Isso me assombra. Ao relembrar estas imagens, o que me vem à cabeça é apenas o sentimento de profunda tristeza.


Hoje, quando volto à cidade... Os meus sentimentos se misturam. A tristeza, não só minha como de todos descendentes de escravos, vem à tona inevitavelmente. Mas o orgulho do meu povo e a alegria também enchem meu coração.
Me admira como um povo que sofreu tanto, judiado pelas injúrias dos senhores, hoje vive feliz e alegre.
Vejo a igreja Matriz, meus sentimentos se misturam. É claro que
nós não íamos àquela igreja. Era a igreja dos brancos e ricos. Essa segregação fez meu coração entristecer.... as lágrimas chegam a escorrer sobre meu rosto. Ao ver aquela igreja lembro também dos poucos momentos em que podíamos conversar entre nós mesmos. Era um momento em que dávamos um tempo ao longo e duro trabalho que nos castigava dia a dia.
A ida à igreja me faz lembrar de todos os poucos momentos felizes que vivi durante aquela época. Din Don! Din Don! Din Donn!
O sino tocou. A missa vai começar. Preciso ir.
Marcelo Gaggini e João Branco.

Lembranças de um passado



Parados na estrada, lembro-me do meu passado tenebroso… Apenas sinto o frio. A umidade da serra. As pessoas conversando sobre o outro ônibus ter quebrado. Reclamam não verem nada. Percebo a neblina com grande intensidade.
Lembrei das velhas lembranças. Não tinha amigos, sofria preconceito e minha única motivação para viver era minha família.
Na escola era excluído, não era nada mais do que um objeto para zoação e brincadeiras sem graça. Foi assim durante muito tempo.
Hoje, aqui, sinto que todos se tornaram parte de mim ao perceberem que não poder enxergar é, na verdade, adquirir o dom de sentir. Tiro sarro da situação. E assim seguimos viagem. Após a neblina, no amanhecer, as nuvens desaparecem e as mais belas paisagens surgem.
Enzo Kauê.

ANDEI CURIOSO


Eu me sinto feliz, porque paraty é um lugar lindo com muitas árvores. As casas têm cores fortes, deixa a cidade colorida! Esse lugar é irado e bem alegre! Com muitos hotéis com piscina, casas, igrejas e comércios.
Na viagem pude ver turistas conhecendo a cidade, por ser histórica. O chão é chamado de pé de moleque, são pedras bagunçadas.
Minhas lembranças são de paz, porque é um lugar calmo e tranquilo, com muitos barcos. No passeio de escuna passamos por muitas ilhas com muito verde. O mar te dá coragem de pular na água e nadar.
Para chegar no forte, tem que fazer uma trilha com muita mata, um pouco cansativo. Mas lá de cima tem uma vista maravilhosa da cidade e sua baía!
Estava feliz! Sentia saudades da mamãe e do papai.
Sentia-me corajoso para fazer as coisas sem ter medo. Gosto das viagens que me façam conhecer o mundo inteiro.
Andei olhando pela janela, curioso… olhando o céu… e as ruas de pedra!
Lucas Zajac.

As ruas de pé-de-moleque


Meu quarto era no segundo andar. Tinha uma pequena varanda; a grade em que eu apoiava o antebraço era azul. Passava parte de minha noite ali, vendo as estrelas.
Minha rua costumava ser silenciosa e eu gostava disso. O barulho das poucas carroças e do mar se quebrando me trazia paz.
Um garoto de pele escura passou em minha rua, atiçando minha curiosidade. Deveria ter a minha idade ou talvez fosse mais novo. Meu coração ficou pesado, assim como a pedra que ele carregava em seus braços. Ele parecia cansado, estava sangrando, será que ele tinha caído?
Atrás dele estavam vários outros garotos com a pele escura, carregando várias outras pedras.
Na minha casa, haviam várias pessoas de pele escura. Uma lavava a louça. Outra ia até o rio lavar as roupas todos os dias. Outra limpava a casa. Também havia a gentil senhora Dulce. Me ajudava a me vestir, a me trocar, cuidava de mim. Ela era muito divertida, mas não falava comigo perto do papai e da mamãe. Eu não entendia o porquê, mas eles não gostavam das pessoas com a pele morena.
Ninguém da cidade gostava. Até fizeram uma igreja só para eles. Não os aceitavam na igreja que eu ia. Eu queria falar sobre isso com mamãe, mas ela apenas me disse que eram obra do demônio. Nunca irei entender como a cor de pele de alguém pode definir sua personalidade.


O menino colocou a pedra no chão. Eu via que estavam cansados e machucados. Eles não paravam. Eram obrigados. Eu passava o dia todo em casa com a senhora Dulce, por que eles não podiam ficar em casa também? Será que eles podiam entrar para brincar comigo?
Então, ele olhou para mim. Olhou tão profundamente que achei que não estava olhando, mas ele sorriu. Eu sorri de volta, percebi o quanto ele queria sair dali. Meu coração se apertou mais.
Surgiu um homem branco que foi até o pequeno menino e o arrastou pela orelha até a porta de uma casa. Minha boca se abriu em espanto. O que ele havia feito de errado? Minha vontade era de descer e ajudá-lo, mas algo me disse para continuar em minha varanda com grade azul.


Seus pulsos foram presos na aldraba de uma porta e ele levou uma chicotada. Uma, duas, três vezes. Ele olhava nos meus olhos, eu sentia sua dor. Lágrimas escorriam sem controle, eu tremia, como se fosse eu ali. Meu sangue escorrendo.
Pare. Todos são humanos. Todos são iguais. Todos sentem dor. Pare!
“Daniela, já está na hora de ir para cama. Vá deitar, agora.” sem precisar repetir duas vezes, enfiei-me entre meus lençóis de seda. O ódio daquela cena vive em mim.
Olivia Souza.

PROTEJA-ME


Eu sempre ajudei meus senhores. Guardei suas riquezas de todos os males. Achei que em algum momento seria retribuído.
Tive que ser forte por séculos. Fui feito para proteger as riquezas dos famoso piratas e saqueadores. Nunca era elogiado pelo meu trabalho. Sempre jogado para mais uma batalha. Meus senhores sempre diziam que eu seria o mais forte, que salvaria vida deles.
Levava mais e mais tiros em meu redor. Nunca tive a chance de mostrar ao mundo o que realmente aqueles brutais visavam. O dinheiro. Para isso fariam qualquer coisa.
Fui considerado um símbolo de resistência e de proteção. Coloquei toda minha vida no bem estar de todas as pessoas. Sonhava em um dia ser reconhecido por todo esse esforço, mas agora me sinto fraco, pois não fui reconhecido. Os próprios homens que me criaram, levaram a fama de serem os heróis. Eu fui descartado. que levaram a fama de serem os
Alexandre Stelata.

CAMINHOS DAS LEMBRANÇAS


Aqui estou, aqui sempre estive em Paraty. Estou sempre observando, poucos que passam por meu caminho notam… Eu tenho várias lembranças de tudo, umas boas e outras de sofrimento.
Lembranças de festas e danças que fazíamos juntos que já não são comuns. Lembranças de vários comerciantes que continuam a vender suas artes. Lembranças de pessoas que descansam sobre mim, mas também da fisionomia dos tristes escravos que me fizeram.


Lembro-me de muitos rostos e aprendo novos ao passar dos dias.
Pena que nem todos respeitam o caminho para velhas lembranças de seus ancestrais e acabam machucando uma parte de suas próprias histórias.
As coisas mudaram junto com as pessoas que, por sua vez, mudaram até demais. Talvez esteja velho demais. Ou talvez apenas queiram me preservar juntos com suas lembranças. Só sei que aqui estou, aqui sempre estive e aqui sempre estarei para contar e reviver nossas história e lembranças, consciente de que poucos se importam por onde pisam.
Rafael Peres.

Paraty me chame para o sufoco tirar!


Paraty, Paraty, Paraty... Quantas vezes eu ouvi uma piada envolvendo o sujeito Paraty, mas, mesmo assim, Paraty conturbou minha cabeça mais do que meus chegados SP e RJ conseguiram fazer juntos antes, retirando de meu psicológico mais dúvidas e incertezas do que boas risadas. Me colocando em um sufoco. Me afogando no mar da tristeza.
A odisseia se iniciava; Paraty, trouxe à tona sua história, cultura, arte, natureza que radicalmente nos proporcionou boas vivências, mas.... Tudo foi bem até um certo ponto.
Quando menos percebi, todo o céu claro e puro de Paraty se tornava cinza como o de SP, meu sustento havia acabado. Meus amigos pareciam mais longe de mim, tentei aproximá-los, meu imperialismo morria a breves facadas de ações.


Tentei me aproximar de novos amigos, mas também tentava recuperar os antigos. Mais perto de minha alma gêmea o coração batia, mais a influência aumentava, mais longe eles ficavam. Até os tratos começaram a ser quebrados. É interessante ver que ele mesmo sendo considerado astuto com seus óculos de grau poderia ser ignorante e ferir mais pessoas com sua ingenuidade.
Discuti mas nada adiantou, ele ganhava força e junto com o outro arrancava mais do meus pilares de mármore que sustentam minha amizade liberal conservada.
Mas Paraty me ajudou a erguer minha confiança. Com sua linda e invicta natureza me acalmou. Com sua história pregada nas paredes dos casarões e nas ruas me entreteu, deixando minha viagem bem mais aproveitadora. Com todos esses elementos juntos, a paisagem de Paraty se torna única para cada um de nós, sendo a cidade feita para ti.
Gustavo Bulla.

Paraty é residir!


Cada minuto que passava eu me sentia mais velho. Não sei o porquê disto acontecer, seria o amadurecimento que eu tento ignorar? Ou a cidade que me contaminava cada vez mais com sua história? Não sei o porquê. Me sentia incomodado, como se houvesse algo distorcido em um mundo perfeito. Era como se as ruas feitas pelos escravos fizessem parte dos meus pensamentos tortos que confundiam o passado e o futuro.
Essa viagem era algo que não fazia sentido, pois não me sentia bem.
Sentia-me deslocado por não estar perto de casa, por mais que meus amigos estivessem ali faltava algo que não me completava.
Assim eu segui buscando a resposta em coisas que estivessem incompletas para ver se trazia-me a ideia do que faltava nessa viagem, tantas vezes vazia em sentido, mas cheia de histórias e moral.
Vitor Teixeira.

Sou história


Bem, sou o cara que sabe e tudo, eu sei de cada pessoa, para onde ela vai e quando ela volta. Todos sabem da minha existência, mas poucos percebem que eu estou ali. Me admiro com a quantidade pessoas que circulam em cima de mim.
Estamos em 2017, agora as pessoas só pensam em celular.



Andam sobre mim sem me reparar.
Andam por todas as partes, para todos os lados, distraídos. Tropeçam em minhas pedras irregulares. Me culpam por isso! Xingam! Porém, não observam a grandeza dos monumentos históricos presentes aqui, construídos por mãos que carregaram tantos sofrimentos.
E se as pessoas olhassem o que está em volta delas? Sentissem a energia do lugar? Percebessem quantas coisas aconteceram para Paraty ser essa cidade…
Sofia Araújo.

VIVER PARATY!

8º ANO A - 2017